A Torre Negra

[OoC: Uma vez que percebi um grupo de membros interessados em interpretar personagens dentro do mundo de WoT, achei por bem criar um tópico para quaisquer discussões entre aqueles presentes na Torre Negra. De modo algum, porém, o tópico está restrito a Asha'man ou canalizadores do sexo masculino. A idéia é simplesmente imaginar que seu personagem está por algum motivo na Torre Negra (seja ele(a) residente ou apenas estando de passagem) e começar a interagir com ele(a).]

"Bem-vindos à Torre Negra! Bem-vindos!", fala distraidamente com o sotaque Domani um alto e moreno homem de meia-idade vestindo o característico casaco negro com Espada e Dragão afixados na lapela, esparramado em uma enorme poltrona de couro do lado de dentro do portão.

A visão é um tanto quanto surreal. No meio da terra e grama, ao lado da estrada de pedra que conduz da muralha às construções de pedra mais ao longe, uma magnífica poltrona que faria inveja a muitos nobres serve de encosto ao supracitado Domani.

Em pé do lado da poltrona, um homem mais jovem e atlético, de cabelos castanho claros, com uma espada longa ligeiramente encurvada presa à cintura, mas também usando o casaco negro e a Espada e o Dragão dos Asha'man, observa tudo em posição de perpétua continência com uma expressão de visível desagrado, mas sem nada falar.

"Bem-vindos. Bem-vindos...", repete novamente o Domani de maneira ainda mais desinteressada do que antes. "Meu nome é Allyn Flynn. E sou responsável pelos novos recrutas e pelas visitas hoje. Sou um humilde mercador de itens semi-novos de difícil procura. E estou aqui para lhes ajudar. Digam o que desejam."

(Grande ideia, Samuca!)

A mulher o encara, com uma expressão neutra. É difícil saber se o está avaliando ou simplesmente sendo cautelosa. Afinal, canalizadores possuem uma fama nada invejável.

A princípio, é difícil dizer o que ela é. Usa um vestido de amazona de pano marrom, simples mas de corte elegante, com alguns bordados nas mangas. Seu cabelo está displicentemente preso em uma trança frouxa, que cai sobre o ombro esquerdo. Sob o chapéu de montaria, seu rosto é pálido e sério.

Bom dia... - ela parece indecisa quanto ao título que deve atribuir-lhe, e por fim, aparentemente resolve não usar nenhum - Só vim procurar uma pessoa... alguém que talvez viva aqui, segundo sei. Um Gleeman, um músico. O nome dele é Nicoly Al'Jaar - novamente um instante de hesitação - Sou a irmã dele.

"Nicoly Al'Jaar?", pergunta Allyn sem olhar para a recém-chegada e enquanto usa a ponta de uma adaga para limpar as unhas.

"Não há ninguém aqui com este nome.", ele fala logo em seguida e ainda sem olhar para cima. "Mas isso não significa nada. Muitos recrutas usam nomes falsos para preservar os familiares da 'vergonha' de ter um parente Asha'man.", finaliza Allyn deixando claro o que ele pensa a respeito disso.

Mal termina de falar, Allyn percebe que seu companheiro Avram abraçou a Fonte Verdadeira, e num impulso ele se joga da poltrona buscando a Fonte e a origem do perigo com a mesma intensidade. Ao olhar pela primeira vez para a recém-chegada, ele não consegue deixar de ser tomado pela surpresa e perde a concentração ao lembrar imediatamente de onde conhece aquele rosto sem-idade.

"VOCÊ!!!", Allyn praticamente espuma entre os dentes.

(Samuca, essa não é a Alessa Riatin. A Alessa Riatin ia lá se dizer irmã de um Gleeman sem eira nem beira?!

Resolvi ser outra pessoa. Isto posto):


A mulher encarou-o, com uma expressão levemente pícara.

Faz muito tempo, Mestre Flynn. Como eu era uma criança na época, achei que não me reconheceria. Curioso toparmos justamente aqui, dentre todos os lugares do mundo... embora, eu deva dizer, isso explique muitas coisas. Sempre tive curiosidade em saber como escapou da prisão, lá em Murandy. - seus lábios se franziram, e era impossível saber se aquilo era um sorriso ou um esgar. Era mais provável que fosse um sorriso, maldita fosse - Lamentei realmente ter de deixá-lo naquele buraco, mas era complicado demais convencer o guarda a tirar nós dois de lá. E não acho que meu pequeno roubo fosse sequer comparável à sua longa lista de malfeitos. De qualquer forma, é bem possível que não ficássemos muito tempo juntos; eu poderia ter morrido quando comecei... - ela interrompeu-se e mordeu o lábio inferior; um antigo hábito que não perdera, pelo visto - Tive sorte nisso, pelo menos. A pessoa certa me encontrou.
E a propósito, ainda quero encontrar meu irmão.

"Seu irmão?! SEU IRMÃO?!", esbraveja Allyn novamente buscando a Fonte Verdadeira, mas sem sucesso tamanha a intensidade das emoções conflitantes que o dominam. "QUE O SOMBRIO CARREGUE SEU IRMÃO!"

Tomado pela ira ao rever a antiga conhecida, e temendo fazer algo do que se arrependerá depois, Allyn se volta para seu companheiro Avram para tentar determinar por que este canalizara, e não consegue deixar de ficar ainda mais furioso, só que desta vez para consigo mesmo, ao vê-lo segurando um cachimbo recém-aceso e uma expressão de espanto completo no rosto.

A troca de olhares entre os dois Asha'man transmite volumes. A Mácula em saidin é uma constante na vida deles e desde que vieram para a Torre, ambos perderam a conta de quantos conhecidos e amigos desceram por essa espiral de dor, destruição e loucura, cujo único resultado a se almejar é uma morte tranquila. Luz! Serei eu o próximo?

"O que deseja aqui, Bibiana Falsin?", pergunta Allyn, ainda de costas para a visitante, em um tom grave e seco, mas sem as emoções de instantes atrás. "Ou será Bibiana Resiato? Ou ainda Bibiana Nera'an?"

"Você me acusa de ser um criminoso, mas pelo que me lembro era você a famosa ladra em Lugard... E você tinha pelo menos dezesseis anos, ou seja, não era nenhuma criança.", fala Allyn ainda de costas e com a mão sobre os olhos, como que lutando contra uma dor de cabeça. "De fato nos conhecemos naquela prisão em Lugard, mas eu estava sendo injustamente acusado de roubar um carregamento de minério Andorano enquanto que você tinha sido presa em flagrante após seduzir aquele lorde para roubá-lo."

À menção do possível roubo de um carregamento de minério, Avram não consegue deixar de olhar com dureza para Allyn e balançar a cabeça, quebrando totalmente o efeito das palavras do outro Asha'man e o deixando desconcertado. "O que deseja afinal? Não temos nada aqui de valor para você roubar., ele fala finalmente olhando Bibiana nos olhos.

A mulher manteve silêncio por alguns instantes, antes de murmurar:

Eu tinha quinze anos... mas que importância tem isso? Vergonhoso mesmo foi ser apanhada. - encarou-o com firmeza, elevando a voz a um tom normal: - Mas não faço mais essas coisas. E já expliquei o que quero aqui. vai me ajudar a encontra-lo... ou não vai?

Allyn não consegue deixar de esboçar um sorriso. Mulheres! Ela admite que era uma ladra, mas tenta esconder a idade...

Acompanhe-me., fala o Asha'man. Avram, o Portão é seu até eu retornar.

Assim que começam a andar pela estrada em direção à vila mais adiante, Allyn volta a se dirigir a Bibiana. "O que falei antes é verdade. Muitos recrutas mudam seus nomes quando vêm para cá. Como é seu irmão?

Bibiana hesitou.

"Como hei de saber? Faz muito tempo que não o vejo. Pode ter mudado muito." - relanceou os olhos pelas casas e muros e franziu o nariz, de leve - "Ele tiha cabelos cor de cobre... e sardas... e como já disse, era um Gleeman." - olhou novamente para Alyn, com aquele olhar desamparado que outrora o fizera acreditar que precisava protege-la - "Não acho que Niki mudaria seu nome. Ele saberia que eu viria procurá-lo."

À distância, soou um barulho de explosão. Bibiana levou a mão à garganta, mas de certa forma, parecia menos assustada do que deveria. Usava luvas vermelhas de couro macio, reparou Alyn, as luvas que uma dama usaria. Os negócios deviam realmente estar indo bem... mas ela dissera que não fazia mais aquelas coisas. Provavelmente estava mentindo. Ou encontrara algum ricaço idiota o bastante para casar-se com ela. Prender-se a alguém dessa maneira não era do feitio da Bibiana que ele conhecera, mas que raios!, uma mulher não permanecia jovem para sempre, e precisava pensar no futuro.

Ela o observava à socapa. "Que barulhão é esse?", perguntou.

Mudando subitamente de assunto, sem esperar resposta, observou:

Não sou a única a usar vários nomes, sabia? A última vez que vi seu amigo, ele não se chamava Avram. E estava todo vestido de branco - e com um sol blasonando o peito. Certamente esse teve motivo para trocar de nome! - sacudiu a cabeça duas vezes, como que concordando veementemente consigo mesma. - De resto, tenho o direito de me chamar Bibiana Nera'an. Segundo minha mãe, meu pai foi Jareth Nera'an... embora, verdade seja dita, apesar dela ser sua favorita, não lhe faltavam clientes naquele bordel. Meu pai poderia ser qualquer um deles. Mas prefiro pensar que é Jareth Nera'an...

Alyn levou algum tempo sem saber de quem ela falava, mas finalmente lembrou-se. Jareth Nera'an fôra um bandidaço que aterrorizara os viajantes entre Tear e Cairhien, até que algum Grande Senhor Tairen reunira seus homens, caçara-o, apanhara-o e o enforcara à beira da estrada, sem contemplações. Diziam que no dia de sua morte, o povo de Tear pulara nas ruas de felicidade, e quando a notícia chegou a Cairhien, os comerciantes fecharam seus estabelecimentos e se mandaram para as tavernas, para comemorar.